Uma das grandes preocupações de pais e mães é que os filhos possam estudar em boas escolas, mas como saber qual é a ideal? Saiba quais aspectos são importantes na hora da escolha e o que aconselham os especialistas

Escolher escola para o filho está na lista dos grandes desafios da parentalidade. A saga começa quando a criança é pequena e vai ingressar na Educação Infantil. Alguns pais buscam bons espaços com áreas externas que o filho possa brincar e explorar, outros querem uma escola que tenha continuidade e não precise mudar quando passar para o 1º. Ano e outros ainda, buscam instituições que se preocupam em alfabetizar ainda na infância.

Não só as escolas têm perfis e propostas diferentes como as crianças e as famílias que farão parte do quadro também. O alinhamento de expectativas entre escola e família é o ponto chave para a garantia do sucesso e isso deveria acontecer ao longo de toda vida estudantil, considerando o ensino Fundamental e Médio também.

Mas é exatamente quando os filhos começam a crescer que as questões começam a surgir e as razões são diversas. Pode ser a escola que começa a não atender as expectativas dos pais, pode ser um contratempo, pode ser um caso de bullying mal resolvido, como o próprio filho que começa a se incomodar e ter dificuldades com a metodologia da escola, entre tantas outras questões.

Nas diversas situações acima, dois movimentos acabam prevalecendo vindo das famílias. Um deles é a troca constante de escola na tentativa de resolver os problemas que surgem em relação ao filho. Outro é a insistência na permanência da criança ou do adolescente numa instituição que é totalmente oposta ao perfil do aluno, mas os pais persistem porque consideram a escola forte.

Fato é que quando o filho cresce, ainda que os pais deem a palavra final, ele precisa ser ouvido e levado em consideração quando o assunto é a escola em que ele vai estudar. Não é possível mudar um adolescente a força para uma instituição nova, assim como não é possível ignorar todos conflitos e dificuldades que se apresentam no atual espaço em nome de um desejo dos pais.

O que estou querendo dizer é que muitos, muitos, pré-adolescentes e adolescentes começam a apresentar dificuldades sociais ou pedagógicas nas escolas em que estão e os pais insistem em mantê-los ali, muitas vezes, porque consideram a escola boa, forte e preparada para o vestibular. Mas quanto custa a saúde emocional do teu filho?

Cuidar do emocional, da sociabilidade e da saúde mental do seu filho é tão importante quanto cuidar do desenvolvimento cognitivo cerebral. Não adianta nada estar matriculado na melhor escola quando esta “melhor escola” é apenas para os pais.

Um pré-adolescente ou adolescente que não consegue ter um bom desempenho escolar, começa a apresentar dificuldades nas relações sociais, constantemente está estafado, estressado, ansioso, está dizendo aos pais que algo não está legal. E por mais que o sonho desses pais seja prover o melhor ensino, dar o que tiver de mais elevado em educação, nem sempre o que é melhor para você é para seu filho e essa é a primeira dica de como escolher a escola ideal.

Filhos crescem e existe o que é ideal aos pais, mas existe também o que é ideal a eles e sacrificar a saúde mental e emocional é um preço muito alto a se pagar. Agora vale também um alerta: é na escola que eles têm a chance de lidar com as adversidades da vida, portanto, fazer pinga-pinga de escola não é uma solução.

Para entender como as escolas lidam com essas situações e também para trazer mais luz a quem está vivendo o dilema na pele, falamos com algumas das instituições de ensino paulistanas mais conhecidas e tradicionais.

De forma geral, adianto: ficou muito claro que não existe a “escola perfeita“, mas sim aquela em que os valores e métodos pedagógicos melhor se encaixam no perfil da família e do estudante. Além disso, todo e qualquer lugar terá seus desafios.

E tem mais, por trás do fluxo de mudar o filho de escola, normalmente existe uma questão que é particular de cada família. E se ela não olhar internamente para compreendê-la e resolvê-la, não tem remédio: transferir o filho só vai levar os problemas a outro pátio.

COM A PALAVRA, AS ESPECIALISTAS Lúcia Costa, orientadora educacional do Colégio Bandeirantes, acredita que escolher em qual escola matricular o filho, por si só, já é uma missão difícil, pois além das dúvidas sobre o quanto as necessidades do estudante serão de fato acolhidas, existe também a insegurança sobre a capacidade do filho em dar conta ou não da rotina de estudos – principalmente quando se trata de um local conhecido por ser mais puxado.

“Se essas crenças permanecem, as dificuldades necessárias a serem enfrentadas para o próprio desenvolvimento do aluno não são compreendidas e mudar o filho de escola parece ser a solução. Quando a família pensa dessa forma, é importante refletir sobre qual mensagem está sendo transmitida ao filho”, provoca.

Segundo Lúcia, a grande sacada é saber escolher uma instituição que compartilhe os mesmos valores dos pais e, ao mesmo tempo, também proporcione desafios para ganhos de habilidades no desenvolvimento acadêmico. “A parceria entre família e escola é fundamental para colaborar no processo de desenvolvimento do aluno, tanto no âmbito acadêmico, como nas habilidades socio-morais e socioemocionais.”

Até aqui tudo bem. Mas, na prática, a emoção e ansiedade dos pais muitas vezes ficam à flor da pele e as teorias vão ladeira abaixo. Camila Petroline, coordenadora pedagógica da Educação Infantil e 1º Ano do Colégio Vital Brazil – onde a rotina de provas começa a partir do 2º Ano do Fundamental – percebe que, nos primeiros desafios ou dificuldades pelos quais a criança passa o impulso dos pais é ameaçar a tirar o filho da escola.

“Nosso papel, enquanto escola, é primeiramente acolher o sentimento dos pais e mostrar a eles que o importante é dar suporte e ferramentas para auxiliar a criança a superar o desafio, já que dificuldades serão vivenciadas ao longo de toda a vida escolar, em qualquer instituição, e que o nosso foco deve ser potencializar o aluno para que enfrente e resolva seus problemas de maneira assertiva”, explica.

A fala de Camila, aliás, vai ao encontro de uma característica que, para a felicidade dos pais mais engajados, encontrei em todas as escolas com as quais conversei: sim! Nelas o diálogo e a escuta parecem estar sempre abertos.

E nessas conversas é possível que a “ficha caia” em diversos sentidos. Inclusive, pode ser que a família precise aceitar que nem sempre seus sonhos são os mesmos dos seus filhos e que despejar as vontades neles está longe de ser uma ideia boa e saudável. Pelo contrário, a insistência de manter o filho numa escola pode ser uma violência e, às vezes, é mesmo hora de procurar outra lugar.

“Quando os pais querem muito que seu filho estude em determinada instituição, mas isso não vai ao encontro do que o estudante quer, os problemas pedagógicos, e até mesmo comportamentais, começam a surgir”, endossa a coordenadora do Vital Brazil.

É aí que entra a parceria família-escola. “O trabalho educacional com as famílias também entra em jogo, já que muitas vezes a escola precisa ouvir os anseios dos pais e auxiliá-los a lidar com suas próprias frustrações, uma vez que o que eles querem para o filho não é o mesmo que o filho quer para si.”

E como lidar com a linha tênue que é educar filhos com liberdade de escolha, mas também orientá-los a enfrentar as dificuldades e responsabilidades da vida?

“É ensinando a criança, desde pequena, a fazer escolhas, analisando os ganhos e as perdas, e lidando com as frustrações que podem surgir que ela se tornará um adolescente e futuramente um adulto responsável, crítico, respeitoso e disciplinado”, orienta Camila.

Para Luciana Lapa, vice-diretora da escola Móbile Integral, certamente, a opinião dos estudantes precisa ser ouvida e considerada, assim como é essencial que haja coerência entre o que as famílias buscam como projeto de vida para o filho e o que ele tem como expectativa e anseios particulares.

“Mas quando se trata de uma decisão tão importante, os adultos devem se responsabilizar o máximo possível pelos caminhos que serão percorridos pelos adolescentes. É claro que há uma gradação na participação dos estudantes, pois quanto menor a criança, mais a decisão deverá estar nas mãos dos adultos responsáveis por ela”, acredita a vice-diretora.

Segundo Luciana, quanto maiores os alunos, mais complexa essa adaptação vai ficando. Isso porque, além das adaptações curriculares, existe também a adaptação aos grupos de amigos.

“Costumamos fazer uma reflexão acerca do que está envolvido quando se busca uma escola: escolhe-se que pessoa quer-se formar, e até quais possibilidades quer-se oferecer a ele, como, por exemplo, cursar uma determinada universidade no Brasil ou no exterior”, diz, acrescentando que ela costuma analisar, no caso a caso, o que as trocas constantes de escolas representam ao aluno e os impactos do ponto de vista das relações.

Agora vale o alerta a partir de dois depoimentos do colégio Dante Alighieri. Tanto Miriam Brito Guimarães, coordenadora de orientação educacional, quanto Angela de Cillo, diretora pedagógica de Ensino Infantil e Fundamental 1 notam que, quando menores, as crianças recebem mais atenção das famílias para lidar com os desafios cotidianos, mas que entre adolescentes e pré-vestibulandos o número de pais com perfil mais intolerante às desilusões dos filhos é maior.

“O que percebemos é que algumas famílias têm muita dificuldade relacionada às frustrações que os filhos passam na escola e que compõem o cotidiano, como nos resultados acadêmicos, por exemplo. Não ser escolhido para fazer determinado papel numa apresentação, ser rejeitado num recreio por um colega. A insatisfação de crianças e jovens leva a família a responsabilizar a escola, como se a frustração fosse sinal de ineficiência escolar e a felicidade constante fosse uma das entregas vinculadas à matrícula. Não é assim na vida, nem na escola”, relatam, dizendo que nesses casos também trabalham no diálogo com estudantes e familiares para o movimento de superação.

De fato, para elas, sem alinhamento a família e a escola podem acabar entrando numa relação conflituosa e a incompatibilidade fica logo evidente. As especialistas sublinham que, não é uma questão de culpa de um lado ou outro, mas sim de uma não adesão aos mesmos princípios e valores.

“Assim como a saúde, a educação é um serviço contratado, não um produto. Nas relações de serviço, o principal elemento é a confiança na competência técnica dos profissionais. Se não acreditamos no profissional, a relação se fragiliza e o processo educativo se prejudica. Nesse caso, é melhor a busca de algo mais adequado ao que a família”, pontuam.

E para abastecer os pais com ainda mais informações da vida real, fecho esse dossiê com um recorte da Escola Bilíngue Pueri Domus. De acordo com Ana Cristina Gonzaga, diretora da unidade Itaim, grande parte dos alunos que lá estudam estão matriculados desde a Educação Infantil e perfazem toda a Educação Básica até o Ensino Médio. Ainda assim, o número anual de pedidos de transferência gira em torno de 10% a 15%.

Ela diz que, quando as razões não são mudança de cidade ou de país, a frequência maior de trocas acontece na virada de segmentos, principalmente na transição do 9º ano do Ensino Fundamental para a 1ª série do Ensino Médio.

“Quando as famílias nos procuram informando uma decisão de saída, buscamos as razões e, na conversa, apresentamos pontos importantes a serem analisados para a tomada de decisão, caso não seja uma mudança inevitável, como necessidades profissionais ou deslocamentos geográficos”, diz.

O que costuma entrar em pauta nesses bate-papos são os laços sociais e afetivos construídos pelos filhos, a sequência de conteúdos, as habilidades e os conhecimentos adquiridos até o momento, o sistema de avaliação, a relação entre os valores vividos e os valores que viverão em outra escola e por aí vai.

Segundo a diretora do Pueri Domus, essas reflexões muitas vezes fazem os pais repensarem na atitude que estão prestes a tomar, abrindo um espectro de considerações ainda não avaliadas.

Ela ainda ressalta que – fica a dica – o grande segredo é que o entendimento fique claro desde o momento em que os responsáveis marcam de conhecer a escola. “Uma sugestão para as famílias que começam a escolher a escola de seus filhos é registrarem tudo o que buscam e esperam da formação, em cada um dos segmentos e, a partir desse alinhamento, façam uma pesquisa detalhada. Visitem as escolas eleitas e se demorem nos encontros e no entendimento do funcionamento de cada uma”, aconselha.

“E sigam construindo esse diálogo e essa parceria duradoura durante toda a trajetória escolar de seus filhos”, finaliza. Como diz o ditado africano: “sozinho vamos mais rápido, juntos vamos mais longe”. Trocar de escola ou forçar o filho a ficar pode parecer a solução mais prática no curto prazo, mas está longe de ser uma decisão colaborativa que vai gerar bons frutos no futuro.

Tão importante quanto cuidar do conhecimento e do futuro, é da saúde emocional e psicológica do seu filho. Não adianta estudar na melhor escola e não “ter cabeça” para tudo que ela provê.

Fonte: Estadão